Seco como água

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É difícil a caminhada sabendo que atrás de você esta um corvo esperando pelo almoço. Pensava José, ou era apenas eu que pensava nisso? Afinal José já não pensava, apenas vivia.

Com um chão que lhe servia de realidade e com um olhar perdido na saudade de uma época que ele mesmo não viveu, José apenas andava… quase sem rumo, perdido em meio a uma civilização selvagem.

Já criança havia perdido seus pais como muitos dos seus amigos de trabalho.  Amigos? Desculpe meu erro, apenas conhecidos, ou melhor, crianças mudas de seus destinos e cansadas de trabalhar a sua infância.

José cresceu em meio a coisas que ele não entendia, isso quando ele tinha conhecimento da existência dessas ditas leis do mundo. Confundia-se ao pensar como ele poderia sentir fome enquanto outros jogavam, ao montes, comida no lixo. Mas José não tinha tempo pra essas besteiras… Pensar… Que desatino… José tinha que calar-se e trabalhar, ele tinha que sobreviver.

Acostumou-se com o tempo em migrar como uma ave, do sertão pro litoral fugindo da fome e da morte. Chegou a passar anos longe de sua terra, sendo abusado pelos que deveriam protegê-lo, apenas pra manter viva a esperança de voltar algum dia.

Hoje, já não sabe se esta indo ou voltando. Já se confundi a paisagem com seu olhar que não mais carrega água e sua mente que não leva alegria ou esperança.

Seu único companheiro é o corvo, que espera sua morte.

Pobre corvo; desatina José… Pobre corvo que espera a morte de alguém que nunca teve vida.

~ por obarqueiro em julho 28, 2012.

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